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pré-eclâmpsia é uma das síndromes hipertensivas da gestação que aparece, geralmente, após 20 semanas, mas é mais comumente encontrada depois da 37ª semana. 

O problema é um dos fatores que elevam a relevância da realização do pré-natal, pois sua predisposição pode ser medida em exames como ultrassom e avaliação bioquímica da função placentária e, quando não bem manejada, pode ser desencadear complicações para a saúde da mulher e do feto.

O que é a pré-eclâmpsia?

A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) define a pré-eclâmpsia como uma doença multifatorial e multissistêmica, que se caracteriza pela existência de hipertensão arterial sistêmica (HAS) associada a proteinúria. 

A hipertensão é o aumento da pressão arterial (PA), enquanto a proteinúria é a presença de proteína na urina. Ainda de acordo com a Febrasgo, o caráter multissistêmico da pré-eclâmpsia faz com que ela gere outras preocupações em torno da saúde da gestante, que envolvem risco para desenvolvimento ou ocorrência de eclâmpsia, acidente vascular cerebral hemorrágico, síndrome HELLP, insuficiência renal, edema agudo de pulmão e morte.

O que causa a pré-eclâmpsia na gravidez?

Esta pergunta ainda não tem uma resposta exata. O que se sabe, atualmente, é que a condição está diretamente associada à hipertensão arterial na gravidez.

Esta hipertensão pode ser crônica, mas também apenas uma especificidade da gravidez. Ainda há outras possíveis causas, como doenças autoimunes, problemas nos vasos sanguíneos, dieta e genes. Cunningham et al. destacam ainda deficiências na placenta, resposta inflamatória sistêmica, além de deficiência do estado nutricional como outras possíveis causas.

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Como identificar a pré-eclâmpsia?

A pré-eclâmpsia pode ser assintomática e, por isso, é importante que a gestante esteja sempre acompanhando a gravidez e realizando o pré-natal de forma correta. Porém, há alguns sintomas que podem ajudar a identificar a condição e, também, fatores de riscos:

* Para esta condição, deve-se considerar o parceiro. Caso seja uma segunda gravidez, mas de um novo parceiro, os riscos são iguais aos de uma primeira gravidez. Isso se dá porque a gravidez pressupõe o crescimento de um ser geneticamente diferente dentro do útero da mulher, já que o bebê herda metade dos genes do pai. Ela não irá rejeitar esse corpo estranho por desenvolver mecanismos imunológicos que protegem o feto, mas o corpo pode liberar proteínas de circulação materna que provocam resposta imunológica da própria gestante. Essa resposta acaba agredindo as paredes dos vasos sanguíneos, o que causa vasoconstrição e aumento da pressão arterial, diretamente ligada à pré-eclâmpsia.

Avaliando a pré-eclâmpsia na prática clínica

A Febrasgo alerta para a ocorrência de “hipertensão do jaleco branco”. Por isso, preconiza que na prática clínica avaliações detalhadas sejam consideradas conforme as situações a seguir:

  • Hipertensão arterial crônica: relato de hipertensão pela paciente ou diagnóstico de HAS antes da 20ª semana de gestação;
  • Pré-eclâmpsia: HAS identificada após a 20ª semana de gestação associada à proteinúria significativa. Em casos em que não há proteinúria, deve-se considerar a ocorrência de trombocitopenia, disfunção hepática, insuficiência renal, edema agudo de pulmão, iminência de eclâmpsia ou eclâmpsia. Há ainda de se observar a associação de HAS a deficiências placentária ou restrições de crescimento fetal;
  • Pré-eclâmpsia sobreposta à HAS crônica: deve-se considerar surgimento ou piora da proteinúria após a 20ª semana de gestação, detectada ainda durante a primeira metade da gravidez; necessidade de associação ou incremento do uso de hipertensivos em pacientes já diagnosticadas anteriormente à gestação com HAS ou, ainda, disfunção de órgãos-alvo.
  • Hipertensão gestacional: referente à presença de HAS em paciente, anteriormente, normotensa, mas que segue sem proteinúria. Pode levar a paciente a um quadro hipertensivo crônico que se estabelece algumas semanas após o parto.
  • Proteinúria significativa: pode ser caracterizada quando há a presença de, ao menos, 300 mg de proteína em urina de 24h.

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Feito o diagnóstico, atenção à conduta!

O principal objetivo do acompanhamento clínico da paciente deve ser evitar a morbimortalidade materna durante o período gestacional e perinatal. Para isso, é necessário manter um bom controle da pressão arterial, mas também observar atentamente alterações laboratoriais que possam levar a desfechos indesejados, principalmente HELLP.

Para tratamento, a depender da condição da paciente, é possível recorrer aos não farmacológicos – que incluem dieta, repouso e acompanhamento laboratorial periódico conforme indicação médica – ou farmacológico com anti-hipertensivos, mas em que se deve considerar os riscos e benefícios para a mãe e para o bebê. 

Em geral, a prevenção primária é feita com uso de aspirina na dose que pode variar de 60 a 150mg/dia, estando a mulher entre a 12ª e 16ª semana de gestação até o parto. A suplementação de cálcio elementar (1,5-2,0 g/dia) em pacientes com baixa ingestão de cálcio pode ser indicada a partir da 20ª semana até o fim da gestação, segundo o American College of Obstetrician and Gynecologists (ACOG).

Há ainda outros agentes que podem ser utilizados para o controle de crises hipertensivas em gestantes, como hidralazina, nifedipino e nitroprussiato de sódio. Contudo, o sulfato de magnésio costuma ser a droga de escolha em muitos casos, desde a publicação do The Collaborative Eclampsia Trial (Magpie Trial).

O que é sulfatar a gestante?

Quando a paciente já está com um quadro confirmado de pré-eclâmpsia, ou eclâmpsia PA elevada, usa-se o termo “sulfatar a gestante”, que nada mais é do que usar o sulfato de magnésio na paciente para diminuir a pressão arterial ou tratar convulsões durante o quadro, por exemplo.

Segundo a Febrasgo, as complicações relacionadas ao uso da substância são raras e a opção por usá-la pode, até mesmo, reduzir prejuízos cerebrais e motores em recém-nascidos pré-termo.

A Febrasgo recomenda um esquema para prevenção e tratamento da eclâmpsia com uso de MgSO4 Veja a seguir:

Entre os benefícios da sulfatação para as mulheres com pré-eclâmpsia e seus fetos estão: redução das convulsões, redução da mortalidade materna, redução de descolamento prematuro da placenta.

Mulheres com pré-eclâmpsia precisam de orientação

É imprescindível que as mulheres que tenham tido pré-eclâmpsia mantenham o controle da PA durante o puerpério e sejam orientadas quanto à necessidade de acompanhamento multidisciplinar em razão dos riscos de desenvolverem disfunções renais e problemas cardiovasculares. Elas também precisam receber informações referentes aos prós e contras relacionados a gestações seguintes e a necessidade de avaliações pré-conceptivas caso desejem engravidar novamente.

Outros cuidados a serem orientados ainda durante o período gestacional envolvem a relação entre repouso/atividade física ou restrição/recomendação de vitaminas e proteínas. O repouso será indicado a depender do caso. Situações em que a paciente tem risco de descolamento de placenta estariam enquadradas como exemplo. Contudo, em linhas gerais, exercícios aeróbicos podem auxiliar na prevenção e controle da pré-eclâmpsia, reduzindo a pressão arterial, elevando o fluxo sanguíneo na placenta e reduzindo a resistência vascular.

No caso das vitaminas, o uso das C e E é desaconselhado em gestantes de alto risco, incluindo-se pacientes com pré-eclâmpsia. Estudos revisionais indicam que pacientes que receberam suplementação de vitaminas C e E durante a gestação tiveram maior risco de ruptura de membranas a termo, por exemplo.

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Referências:

Cunningham GF, Leveno KJ, Bloom SL, Dashe JS, Hoffman BL, Casey BC, et al. Williams Obstetrics. 24th ed. New York: McGraw-Hill Education; 2014.

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13/7/22
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